Almas Tatuadas
Abrimos nossa caixa de Pandora...
Essa caixa não foi um presente de Zeus, mas construída cuidadosamente por nós. Durante anos de dedicação e anulação perante a vida, fomos pouco a pouco enchendo nossa caixa de lembranças, insucessos, alegrias, esperança, decepções, amores, vitórias, fracassos, vergonha, desistências, desejos, teimosia, saudade... Mantivemos tudo muito bem guardado, mas a rotina de guardar sentimentos se rompeu quando o inesperado não quis participar daquele jogo. E de repente, estávamos em meio a uma explosão de cores, sons, percepções. Foi o despertar. Como se nosso sangue estivesse mais vivo, como se nossos olhos enxergassem mais e os ouvidos escutassem todos os sons do mundo.
Estamos diferentes. E ver a vida com esse brilho nos tornou especiais, talvez um pouco invulneráveis, como se nada mais nos surpreendesse. Não há medo ou apreensão, só a certeza de que estamos aqui, e de que agora é pra valer!
"Abençoa a taça que quer transbordar para que dela emanem as douradas águas, levando a todos os lábios o reflexo da tua alegria."
Assim falava Zaratustra...
Promoção de Natal
31 de jan. de 2013
31 de dez. de 2012
Feliz Ano Novo
"Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor de arco-íris,
ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido)
Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)... Novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha... Você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?) Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas, nem parvamente acreditar que por decreto da esperança, a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo... Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre." Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)... Novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha... Você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?) Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas, nem parvamente acreditar que por decreto da esperança, a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo... Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre." Carlos Drummond de Andrade
22 de dez. de 2012
Conto de Natal (reedição)
Depois de quase um mês entretida com a escolha de um presente de Natal para sua melhor amiga, que havia rompido um noivado de três anos e estava no fundo do poço, Nathy conservava um sorriso satisfeito em seu rosto. Havia realizado inúmeras buscas em casas noturnas, até que ela deu de cara com o "Insuperável", em uma festa no Morro da Urca. O "Senhor Perfeição". O "Todo Poderoso". O "Troglodita". Um metro e oitenta e cinco de músculos esculpidos de forma a causar inveja em qualquer estátua grega. Um rosto de Apolo, num corpo de estivador. Flertava com todas abertamente, o que facilitaria seu trabalho. Roupas bem despojadas e olhar de quero mais. Os cabelos negros chegando ao ombro pediam para ser agarrados fio a fio (será que faltava dinheiro pra cortar aquelas camadas que pareciam querer falar com ela?). Ao cruzarem o olhar, seus nervos se alvoroçaram. E ela pegou-se a cantarolar alegremente: Noite Feliz, noite feliz... afinal, a duas semanas do Natal, havia encontrado o Papai Noel ideal...
Como a vergonha não constava em seu vocabulário, partiu para o tudo ou nada. Chegando perto do "Colosso", perguntou com malícia:
-Quer uma piranha emprestada para prender sua crina?
Os olhos dele se estreitaram, e ela se assustou com o tom da voz que ele usou.
-Está falando comigo? Acho que não escutei muito bem... - Tom avaliava a estranha que chegara até ele com um papo improvável: ela não era uma mulher para estar sozinha numa noite como aquela. Os cabelos castanhos lhe caíam quase até a cintura, os cachos se enrolando sedutoramente. No escuro, percebeu o sorriso branco e o volume dos seios no insinuante decote. Os olhos claros brilhavam.
-Desculpe-me, mas é... é que a noite está quente e pensei em ajudar a aliviar o seu calor. Sei o quanto incomoda o cabelo descendo pelo pescoço, grudado, e o suor escorrendo... - a voz dela foi sumindo aos poucos, pois percebeu que o homem era muito mais do que pretendia. Talvez ele fosse incontrolável... Mas a risada rouca dele pegou-a de surpresa e, relaxada, ela encontrou coragem para expor o seu plano.
-Escuta aqui, querido: você é perfeito. É a pessoa ideal para o trabalho que tenho em mente. Por favor, diga que aceita.
Ele gargalhou bem alto.
-Trabalho pra mim? E qual seria a sua proposta? - A curiosidade e a ousadia daquela linda mulher fizeram com que ele entrasse no jogo, e a vontade de ficar com ela o faria aceitar qualquer negócio.
-Bem, pretendo fazer uma festa para dois no dia de Natal, e acho que você seria o papai Noel ideal!!!!
Entre surpreso e desconfiado, ele divertiu-se ainda mais. Ela queria preparar uma festinha para dois e estava inovando... que criatividade!!! Tinha tudo a ver com o tipo dela. Essa ele ia pagar pra ver: -Sabe que você é surpreendente? Explique melhor que te digo se vou ou não.
Depois de um tempo conversando e bebendo, ela o colocou a par de sua ideia. Continuaram juntos, demonstrando a cada minuto uma intimidade crescente... a mão de Tom percorria os braços de Nathy como se aquilo fosse natural, e ela ria das besteiras que ele dizia, esbarrando nos ombros largos. Ao som de uma melodia tranquila, ele a puxou para a pista de dança, precisava tê-la mais perto. Seus corpos se colaram, o frenesi surgindo da cumplicidade de movimentos. Tentaram continuar a conversar, mas as palavras morreram na troca de olhares, e ela recostou a cabeça no peito forte. Aos poucos, percebeu suas emoções sendo sugadas no tormento daquele abraço, e levantou a cabeça para encará-lo. Mas não esperava o beijo que se seguiu. A princípio lento e suave, Tom aprofundou o contato, e a deixou louca. Sem querer aceitar o que sentira, Nathy o empurrou. E numa indagação muda, o fitou, incrédula. Descontrolado, Tom quase agradeceu pela interrupção, aproveitando para voltar ao jogo. Dando um giro no corpo dela, sorriu seu sorriso mais encantador e a levou de volta ao bar. Nathy o observou, e ansiosa, perguntou se o acordo ainda estava de pé. Ele não deixou passar a oportunidade, e respondeu ironicamente:
-Não só o acordo, como todo o resto... você não vem comigo?
Ela ficou tensa: palavras ditas em voz rouca, os olhos fixos em seu rosto, a beleza viril de Tom... e a resposta quente do seu corpo. Lutou contra si para se desvencilhar do homem, e de toda a emoção que cercava o momento. Assumindo uma postura rígida, acabou com o jogo de sedução que a estava enlouquecendo:
-Não misturo as coisas. Isso é trabalho. Você aceitou, pago depois de consumado. Nos vemos no dia seguinte ao encontro, como ficou combinado. Qualquer coisa me ligue, meu cartão está contigo. - Ela falou apressadamente, virou e se foi, deixando-o sem ação.
Quando uma mulher o recusara? Não se lembrava. Ele era um rico empresário da construção civil, solteiro por opção, assediado por socialites ávidas por abocanhar (literalmente...) um bom partido. Ela devia ser louca. Ou estava querendo deixar a surpresa para o dia de Natal. Nada como ter Nathy no Natal, pensou, rindo consigo mesmo...
***
Sentia-se ridículo vestido naquela calça de cetim vermelho! "Droga, onde está aquela maldita mulher que me enrolou a ponto de fazer eu me fantasiar de Papai Noel! Acho que enlouqueci de vez..." E lá estava o empresário Antônio Pedro Fernandes deitado em um luxuoso quarto de hotel, cortinas abertas, fitando o mar de Ipanema, às 18 horas do dia 24 de dezembro, com o gorro caído de lado. Esperando...
Naquele mesmo momento, lá no saguão do hotel, uma mulher de longos cabelos castanhos ondulados andava de um lado para o outro, atraindo a atenção dos passantes, nervosa, em seu vestido vermelho. Nathy. Intensamente preocupada, olheiras em torno dos olhos verdes, ela não sabia o que pretendia fazer com aquela situação. Não tirava seu "papai Noel" da cabeça, e não conseguira falar com Anabel desde o início do dia. Então resolvera esperar pela amiga no hotel, para desfazer o negócio. Se arrependimento matasse... De repente, seu celular toca. O visor mostra: ANABEL. Ela atende, e logo depois suspira fundo. A amiga não viria. Com menos um problema em seu final de ano, agora ela poderia ir para a casa dos pais e esquecer toda aquela loucura. Ela pega o caminho da saída e, ao atravessar a porta giratória, volta, trazida pelos próprios pés. Respiração curta, muita agitação, coração quase saindo pela garganta, resolve passar o Natal no apt. 1202. Afinal, quem poderia ser melhor companhia no Natal do que o próprio papai Noel? E lá foi ela, cartão na mão, cantarolando alegremente:
-Noite Feliz, Noite Feliz...
19 de dez. de 2012
Nossa Magia
Gente, linda a resenha que a Rafaela fez do nosso livro!!! Para quem quiser dar uma olhadinha:"Canto de Meninas"...
http://cantodemeninas.blogspot.com.br/2012/12/a-magia-do-amuleto-cristina-brandao-e.html
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"Magia do Amuleto" - A Amazônia em poesia pra você!!!
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17 de dez. de 2012
Conto de Fadas (Florbela Espanca)
Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha própria dor.
Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Das horas más que tens vivido, amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha própria dor.
Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...
Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de ouro, a onda que palpita.
Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: "Era uma vez..."
Tirou a luz para pintar o vento...
Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de ouro, a onda que palpita.
Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: "Era uma vez..."
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Minha'lma de sonhar-te, anda perdida
Florbela Espanca
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver, pois que tu és já toda a minha vida
Não vejo nada assim, enlouquecida
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser, a mesma história tantas vezes lida
Tudo no mundo é frágil, tudo passa
Quando te digo isso, toda a graça
De tua boca bonita fala em mim, de olhos postos em ti, digo de rastro
Podem voar mundos, mover astros
Que tu és como um deus, princípio e fim."
Florbela Espanca