Promoção de Natal

24 de ago. de 2009



Capítulo V


Outubro de 1633

 


                       Anavilhanas estava sendo preparada para o ritual da fertilidade, pois chegara a época da celebração. Yana e Amanari iriam com outras guerreiras até a ilha de Tupé para colher o paricá, uma erva alucinógena usada durante o ritual para evitar o envolvimento emocional das guerreiras com seus pares. 

         As canoas oscilavam perigosamente sobre as turbulentas águas do rio Negro, agitado devido à tempestade ocorrida horas antes. As jovens precisariam ter muito cuidado durante a travessia, pois o rio parecia pronto a tragar quem ousasse enfrentá-lo. Chegando ao seu destino, elas aliviaram a tensão ao se embrenharem entre os arbustos para colher a erva. Aos poucos, o trabalho deu lugar à diversão, e correndo, subiram a colina que dividia a pequena ilha. De lá era possível vislumbrar o espetáculo que os botos cor-de-rosa proporcionavam a quem pudesse vê-los. Distraídas, caminharam de volta para a areia da praia, quando o encanto foi quebrado pela cena que se apresentou: espalhados pela areia branca, vários homens encontravam-se desacordados, apresentando ferimentos profundos. O cheiro de sangue fresco já atraía os répteis para o local. 

          Yana engoliu em seco, e se apressou para afastar um jacaré que se aproximava de uma das vítimas. Avançou em sua direção, e fixando o olhar nos olhos do animal, buscou dentro de si o instinto primitivo de seus ancestrais. Então, ordenou mentalmente que voltasse para a água. Hipnotizados pelo poder emanado daquele espírito, os répteis retornaram ao rio.  Um ligeiro mal-estar se apossou da mulher, e recuperando-se do transe, ela falou com a voz embargada: 

         -A fúria dos deuses foi implacável com eles. Venham, precisamos ajudá-los. Amanari, temos que ver quem está mais ferido. Maíra, vá até a colina e traga cipó-d'alho e unha-de-gato. Examinem todos com cuidado, lavem os ferimentos e usem as ervas. Depois levaremos os homens para as canoas. 

       Elas se apressavam para cumprir as ordens. Ouvindo um lamento de dor, Amanari precipitou-se em direção ao som, gritando agitada:

      -Yana, encontrei mais um com vida! Ajude-me a levantá-lo para que possa respirar melhor. Depressa! 

    Imediatamente Yana ajudou a irmã, e as duas encontraram dificuldades para recostá-lo no pequeno monte de areia. Quando finalmente conseguiu virá-lo, Yana o fitou, atordoada. Nunca havia visto um homem de traços tão perfeitos. Os cabelos longos e louros misturavam-se aos grãos de areia, e as roupas molhadas e esfarrapadas revelavam músculos de um corpo poderoso. Um corte profundo rasgava sua testa, e o estranho parecia sofrer, com a boca comprimida em um gesto de dor. Então, sem se dar conta, ela passou suas mãos pela fronte do homem, necessitando tocá-lo de alguma forma. Confusa, ela não compreendeu o sentimento que invadiu seu peito, e por um breve momento desejou tomar para si a dor que ele sentia.  

    -Maíra - ela gritou aflita -, traga a erva para estancar o sangramento. Este homem está muito mal. 

          

       O suave toque em sua testa aliviou a dor que ele sentia, como se fosse o toque de um anjo. Por um instante, Rodrigo abriu os olhos para ver quem o acariciava tão docemente. 

        -Quién eres tú?

       A voz rouca acariciou seus ouvidos, e Yana fitou o desconhecido, mergulhando no verde de seus olhos, que possuía um tom tão vivo quanto o das folhas da floresta. Ele estendeu a mão para ela, querendo dizer algo, e ela afagou a mão do estranho entre as suas, sentindo um agradável calor tomar conta de seu ser. Tentou organizar os pensamentos, e alarmada, prendeu a respiração. O tempo parou. E ela só voltou à realidade quando ouviu ao longe a voz angustiada de sua irmã: 

         -Yana, o que houve, você está bem? 

         Respirando profundamente, ela soltou as mãos do ferido. 

       -Não se preocupe, foi um ligeiro mal-estar. Fiquei fraca devido à energia que doei para ele.

     Rodrigo fez um enorme esforço e abriu os olhos novamente, sorrindo para sua salvadora. Foi o sorriso mais terno que ela já havia visto, e isso a comoveu. Prometeu a si mesma que ia salvá-lo, mesmo que o ato ligasse seu espírito ao dele para sempre... O tempo era a diferença entre a vida e a morte, precisava apressar-se.


            

19 de ago. de 2009

A Magia do Amuleto - Introdução

Introdução


Entre as inúmeras lendas que cercam a Amazônia de magia e mistério, há uma que conta a história de tribos constituídas exclusivamente por mulheres. A formação dessas tribos esteve ligada à exploração e humilhação que as mulheres sofriam junto aos homens com quem viviam. Corajosamente, elas fugiram e se organizaram em grupos.
Ficaram conhecidas como Icamiabas - mulheres sem marido - e passaram a ser respeitadas por sua capacidade de sobrevivência. Escolhiam, para a perpetuação da tribo, guerreiros indígenas fortes e corajosos, ou homens brancos capturados nas lutas travadas. Durante o ritual de procriação, eles eram presenteados com pequenos objetos, feitos com o barro verde retirado do fundo da Lagoa Sagrada - os muiraquitãs. Com o passar do tempo, esses amuletos foram encontrados por naturalistas e arqueólogos em vários pontos da Amazônia. Atualmente, a maioria se encontra exposta em museus do exterior ou em coleções particulares.
Em 1541, uma expedição espanhola comandada por Francisco de Orellana percorreu o Rio Grande (conhecido como Mar Dulce), desde os Andes até a foz, no oceano Atlântico, em busca de ouro e prata. Durante a travessia, houve um confronto com várias guerreiras na foz do rio Nhamundá (divisa entre os estados do Amazonas e Pará). Este confronto foi relatado em diário de bordo por Frei Gaspar de Carvajal, que as descreveu como “mulheres altas, belas, fortes, de longos cabelos, que andavam completamente despidas, com arcos e flechas, guerreando como dez índios”. Elas foram associadas às guerreiras da mitologia grega, e o rio foi batizado como "Rio de las Amazonas".
E aos poucos a Amazônia revelou-se ao mundo, despertando nos povos conquistadores o interesse pelos seus mistérios e suas riquezas. Mas a exploração que se seguiu deixou um rastro de degradação e morte na imensa floresta.
Nossa história se inicia com essa busca desenfreada por riquezas, e o encontro inevitável com a magia do lugar…



Cristina Brandão e Márcia Figueiredo

5 de ago. de 2009

Our Dreams

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos.

Mas há também quem garanta que nem todas,
só as de verão.
No fundo, isto não tem muita importância. 

O que interessa mesmo não é a noite em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre,
em todos os lugares,
em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado."

William Shakespeare

4 de ago. de 2009

Bienal do Livro - RJ 2009

Caros Amigos 
Postamos agora a última carta enviada aos nossos editores:

Somos duas autoras que um dia acreditaram em vocês. Nossa maior decepção foi não recebermos um simples relatório de vendas, onde constasse a quantidade de livros que vendemos. E não foi por falta de solicitação.  
Aos poucos resolvemos nos afastar, e hoje nos deparamos com esse blog, que para nós era desconhecido.  
Parabéns às novas aquisições, que estão tendo muito mais divulgação do que os primeiros a acreditarem na Baraúna. Quando lançamos o nosso livro, fizemos questão de enviar fotos do nosso evento, mas elas devem estar perdidas por aí...  

Semana passada soubemos de um simpósio ocorrido em SP, sobre novos escritores que escreveram sobre lendas e mitos do Brasil. Mas talvez seja excesso de expectativa nossa esperar que vocês associem uma publicação ( já esquecida) com um tema que certamente vocês desconhecem constar de seus arquivos. E quanto à Bienal do livro no RJ? Vocês teriam alguma ideia para propôr aos que porventura queiram participar? Um stand para autor independente está por volta de 1750,00. Será que como editora independente vocês teriam como dividir esse espaço entre autores que se interessassem? Pois nós não dispomos desse dinheiro, além do que precisamos desembolsar para adquirir livros para a exposição. Talvez vcs tenham alguma influência entre os organizadores para sugerir esse tipo de arranjo.  

Abrimos diariamente e-mails, e nenhum contato é feito desde o pedido de atualização de dados cadastrais, que não foi respondido por não haver nenhuma alteração. E quanto à redução do preço do nosso livro que solicitamos em troca de nossa comissão baixar? Queremos que o livro tenha condição de venda, posto que os preços médios de bons livros de renomados autores no mercado estarem na faixa de 22,00. De que adianta as parcerias que vcs fazem com outros sites de venda se nossos livros passam a competir com livros que custam 9,00?  
Pelo jeito, "A Magia do Amuleto" vai continuar em seu túmulo virtual ainda por um longo tempo... Marcia e Cristina

17/03/2009 - Descaso+Incompetência=Engano Imperdoável

Descaso+Incompetência = Engano Imperdoável

Correção / Autoria: Cristina Brandão e Márcia Figueiredo

Fazendo uma busca no Google, surtamos!!! (pra variar) Ao digitarmos o título do nosso livro, encontramos uma página de venda da editora, e ao lado do título, uma outra pessoa constava como autora. Olhamos uma pra outra e ficamos sem entender: será que o surto era tamanho que outra escritora era também nossa parceira e não sabíamos? rsrrssrrs
Infelizmente, tivemos outra prova que a nossa editora, além da pouca divulgação feita, quando faz, faz m#rda...
Levamos dois anos trabalhando sério pra ver nosso livro com o nome de outro autor? Ora, faça-me o favor: TIRA ESSE SAPO DA MINHA GARGANTA!



Sapo, cuidado que a cobra te pega...

29/05/2009 - Sacerdotisa



"Seus longos cabelos negros cintilavam sob o imponente cocar adornado com pedras e penas amarelas, e desenhavam sua silhueta ao repousarem suavemente sobre suas costas. Através de seus olhos, verdes como o círculo de jade que pendia em seu colo, podia-se quase tocar a tristeza que lhe ia na alma. Yana proferia sábias palavras, mas seus lábios não conheciam mais a doce expressão de um sorriso:

Deuses que zelam por nosso povo
Protejam mais um ritual da fertilidade
Deixem brotar a semente que será resguardada no ventre
de cada mulher guerreira
Povoem nossa aldeia com novas vidas repletas de luz
E façam com que essa luz nos guie pelo caminho da paz


Ela havia se tornado a guia espiritual de sua aldeia, e zelava por cada mulher com a força que absorvia da Mãe Terra. Seus poderes místicos se fortaleciam a cada sol, e a luz da lua os abria para o mundo. Sua sabedoria amadurecera com o decorrer do tempo, e em cada gesto deixava fluir a bondade de seu coração. Mas o ritual da fertilidade continuava despertando dolorosas lembranças, e uma lágrima silenciosa rolou, traçando em seu rosto as marcas do sofrimento. Enquanto observava o desenrolar da cerimônia, sua face se transfigurava. Naquele momento, o peso do passado era insustentável."


Parte do cap. XXI do livro "A Magia do Amuleto".

27/03/2009 - A Magia de um Encontro




"A lua tornara-se cúmplice da explosão de paixão que se seguiu. Rodrigo pegou Yana em seus braços, e a levou por entre a cerca viva de flores e cipós, atravessando a areia macia e acolhedora que ficava em torno da pequena lagoa. Lentamente, sem desviar seu olhar dos olhos da amada, ele a pôs no chão e a despiu, deixando cair a faixa de couro que cobria sutilmente seus quadris. Seduzida pela força do amor que transpirava dele, Yana o puxou para si, num abraço desesperado, procurando sua boca numa tensão crescente. Rodrigo tentou mantê-la colada ao seu corpo, enquanto se desfazia de suas roupas. Caiu sobre ela sem parar de beijá-la, firmando suas costas com a força dos músculos do braço. Deitando-a com cuidado sobre a relva macia, admirou os cabelos enfeitados com flores se espalhando como um manto negro, emoldurando o rosto que demonstrava o sofrimento trazido pela paixão reprimida. Ela não era mais uma sacerdotisa cumprindo um ritual: era uma mulher entregue ao homem de sua vida. E ele sentiu sua ânsia de viver esse momento.

-Yo te quiero, te venero, Yana! – Palavras urgentes, olhar devorador, gestos possessivos: a necessidade de possuí-la destruía sua alma.
-Ihé uru-aîhu, Rodrigo! Quero sentir tudo o que esse amor pode me dar - Yana sussurrava, com a voz entrecortada pela emoção.
-Então vem pra mim..."

(em "A Magia do Amuleto")

26/02/2008 - Tempestade


Capitulo XI
Durante a madrugada, a chuva caía pesada, o céu parecia chorar por ele. Rodrigo fixava o olhar em um ponto qualquer no teto da cabana, e assim como a água que limpava tudo lá fora, sentia a necessidade de expulsar de seu coração o misto de raiva e desejo que o consumia. Por que ele fora demonstrar o que sentia por Yana? Por que não percebeu que ao se calar perante a mãe ela rejeitara seu amor? Para que se expor daquele jeito se ela pertencia a um mundo tão diferente? Instintivamente, segurou seu amuleto. Uma onda de fúria fez com que arrancasse o cordão do pescoço, como se isso fosse capaz de tirá-la de seu pensamento. Deveria ir para longe, voltar para o navio, só assim estaria a salvo das armadilhas do amor. Sem pensar, levantou-se e saiu da cabana. Precisava lavar sua alma, e deixou a chuva forte cair sobre si, maltratando sua pele. Ergueu o rosto para o céu e deu um grito desesperado, como se pedisse auxílio às forças do universo para arrancá-la de dentro do seu peito:


- Dios!!!!


Yana abriu os olhos de repente. Havia sido difícil adormecer, e no momento em que se entregara ao sono, aquele aperto em seu peito a ergueu da cama. Seu coração a avisava de que algo estava errado, e ela só pensava em Rodrigo. Tinha que encontrá-lo para ter certeza de que nenhum mal o havia atingido. Desesperada, pegou sua faca e nem percebeu a chuva. Saiu correndo em direção à cabana onde ele estava. Era quase impossível enxergar o caminho, mas foi guiada pela intuição e pelos clarões que surgiam seguidamente no céu. Os trovões eram ensurdecedores, no entanto ela estava alheia aos avisos da natureza. Descalça, nem sentia as pedras machucando seus pés, pois só o que importava naquele momento era chegar até ele.
Nunca a ponte de madeira lhe parecera tão longa... Subitamente parou, estarrecida com o que viu: alguém estava à sua frente, fincado ao chão como uma rocha em meio ao lamaçal, ajoelhado e cabisbaixo. Era Rodrigo. Em meio à luz emitida por um raio que rasgara o céu, ele levantou a cabeça e a observou com um olhar lascivo. O corpo de Yana estava totalmente à mostra sob a fina veste molhada. A água da chuva deslizava pelas curvas sinuosas e tentadoras e ele passou a língua pelos lábios, desejando sorver cada uma daquelas gotas.
Ele se ergueu, e com um passo pôs-se à frente dela. Sobressaltada, ela largou no chão a faca que trazia consigo. Nada foi dito; a linguagem corporal falava por si só. Ele a prendeu em seus braços, apossando-se da sua boca com voracidade, até que o ar lhe faltasse. Suas mãos ávidas deslizaram pelas costas dela, e ao chegar aos quadris, abriu suas pernas, encaixando-a no fogo da sua descontrolada paixão. Buscando no fundo de sua mente algum resquício de lucidez, afastou-se dela lentamente, e viu o medo e o desejo estampados em seu rosto. Lançando-lhe um olhar endurecido, apossou-se de seus seios com mãos fortes, e rasgando o tecido, colou os lábios na pele macia e molhada. Aos poucos foi descendo, sua boca insaciável explorava cada parte da barriga, e ela gemia e se contorcia de prazer, até que ele chegou no ponto onde ela estava mais inflamada pelo desejo. Ele a levou a uma outra dimensão, e ela explodiu em um prazer incontrolável,
desconhecido,
inesquecível...
Por alguns momentos, ele conseguiu banir a raiva que o levou a agir daquela forma. Seu corpo nunca respondeu com tanta intensidade ao proporcionar prazer a uma mulher. A mistura de inocência e desejo primitivo em Yana era irresistível, e ele precisava possuir aquele corpo quente... Mas não poderia fraquejar agora, pois ela o excluíra de sua vida perante toda a aldeia. E não iria ser rejeitado duas vezes por uma índia.

Yana voltou à realidade, inebriada pelas emoções, e assustou-se com o sorriso de desdém que bailava nos lábios do homem que a subjugara através do prazer. Ela ainda segurava os cabelos de Rodrigo com força, quando finalmente ele se levantou. Fitando-o, maravilhada pelo que sentira, assustou-se ao deparar-se com outro homem. Alguém que ela não conhecia a tocara de forma voraz. E ela foi a única culpada por aquela mudança, com a sua omissão.
Deliciando-se ao vê-la tão submissa, Rodrigo fez um movimento brusco, afastando a mão dela de seus cabelos, e falou com uma voz cortante e fria como a chuva que caía.
-Você gostou do que eu te fiz sentir?
Entristecida, Yana tentava penetrar na redoma em que ele se escondera.
-Sim... Até ver em seus olhos que o Rodrigo que eu amo não estava aqui.
-O Rodrigo que você ama? Mas que tipo de amor é esse que rejeita e faz sofrer?
-Eu não te rejeitei, por favor, acredite em mim... Apenas compreendi que nossas vidas seguirão por caminhos diferentes. Você voltará para o seu povo e eu ficarei aqui, cumprindo a função para a qual fui criada.
Vagarosamente, Rodrigo abriu um sorriso de escárnio e bateu as mãos com firmeza, para aplaudir o que acabara de ouvir.
-Muito bem dito, princesa! Agora está falando como uma verdadeira sacerdotisa! Você acaba de decidir a minha vida sem ao menos saber o que desejo... E como sempre, está honrando seus costumes e esquecendo seu coração.
-Não posso ouvir meu coração!
-Mas você não ouviu seu coração ainda há pouco? Pois eu o ouvi clamar por mim. E quem estava aqui não era a sacerdotisa, mas a mulher que eu queria para ficar comigo para sempre.
-Você não entende que eu não posso abandonar tudo em que acreditei durante a minha vida?
Rodrigo a encarou pensativo, e viu que essa batalha estava perdida.
-Pois volte para sua aldeia e diga à Caia que participarei do ritual com a mulher que ela indicar. Quero ir embora daqui e esquecer este lugar o quanto antes.
Incrédula, Yana arregalou os olhos diante da mudança de atitude.
-Por que mudou de idéia?
Rodrigo aproximou-se mais, e emoldurando-lhe o rosto com as mãos, beijou-lhe seguida e avidamente, enquanto sussurrava:
-Vou aproveitar... princesa... para terminar com outra... o que comecei a fazer com você.
Zonza e com as pernas trêmulas pela embriaguez dos beijos e crueldade das palavras, juntou as mãos no peito de Rodrigo, afastando-o de si.
-Chega! O ritual não é fonte de prazer para nós, capitão!
-Mas para mim será. E não pense que o que se passou aqui teve alguma importância. Você surgiu do nada na minha frente e percebi que queria sentir prazer. Foi isso o que lhe dei. Algo para se lembrar enquanto viver.
Fuzilando Rodrigo com o olhar, Yana segurou as lágrimas.
-Agora que eu sei quem se esconde por trás do homem que pensei conhecer, arrependo-me de ter vindo até aqui.
-Tarde demais para arrependimentos... E daqui pra frente apenas este homem passará a existir. Portanto, cuidado!
Dizendo isso, Rodrigo correu os olhos cheios de cobiça pelo corpo nu à sua frente e foi embora, deixando-a sozinha.

Até aquele momento, Yana não havia se dado conta de sua nudez. A maneira como ele olhou para o seu corpo fez aumentar sua ira frente à fraqueza que sentira em seus braços. Finalmente reconhecera o mal, e iria combatê-lo. Pegando a faca que estava no chão, saiu correndo na direção de Rodrigo.
-Capitão...! Volte aqui!
Rodrigo virou-se devagar e viu a fisionomia dela transtornada.
-Acho que já terminamos a nossa conversa... Ou ainda quer algo de mim? Não foi suficiente o que eu lhe dei?
-De você eu não quero mais nada, Rodrigo de León, e não tenho medo de suas ameaças. Tenha cuidado comigo também, pois você ainda não me conhece!
-Conheço você mais do que pensa...
Ferida e descontrolada, Yana partiu para cima dele que, surpreso, não conseguiu evitar o golpe que ela desferiu em seu peito com o pé, e desequilibrado, caiu. Ela pulou sobre ele rapidamente, sentando-se sobre seu tronco, prendendo-o entre suas pernas e pressionando seu pescoço com a ponta da faca. No chão, extasiado com a atitude da mulher, e sentindo seus cabelos molhados roçarem sua pele, percebeu a respiração quente e ofegante contrastando com a fria lâmina da faca que o ameaçava. A beleza, outrora suave, do rosto de Yana, dera lugar a algo selvagem, indomável e avassalador. Seus olhos o queimavam com a fúria do fogo. Naquele momento, ela era o próprio fogo. Rodrigo sentiu-se totalmente dominado pela guerreira.
Yana levantou o canto dos lábios e, falou, com um sorriso enigmático:
-Estava enganado. Agora sim você me conhece. E coloque de volta o amuleto em seu pescoço, pois você vai precisar dele. – E aproximando seu rosto sem afrouxar a pressão da faca, beijou-lhe a boca, abrindo os lábios de Rodrigo com o furor de sua língua. Quando ele relaxou e quis retribuir o beijo, ela lentamente afastou o rosto, levantando-se. Olhando-o do alto, vitoriosa, afirmou lentamente:
- De você, capitão, não quero mais nada...


Essa é uma degustação, se você gostou, adquira o livro " Magia do Amuleto" através do site www.sebohadassa.com ou através do e-mail letras.ideias@gmail.com

06/12/2008 - A descoberta do amor...



"E depois dessa noite, depois de sentir o sabor daquele corpo, ela havia se entranhado em seu ser, e o cheiro doce se impregnara em seus poros..."


Desistir, jamais... 14/11/2008



Pedras foram jogadas ao longo do caminho, na tentativa de dificultar a jornada que tínhamos pela frente. Caíamos... Sofríamos... Mas ao final, reerguíamos a cabeça e íamos seguindo nossa intuição! Caneta, papel, anotações e o computador eram nossos aliados das (parcas) horas que nos dedicávamos à árdua e prazerosa tarefa da escrita. As ideias germinavam em nossas mentes, procurando com avidez se fixarem ao papel. O tempo não era suficiente... As horas corriam sem freios... As solicitações caseiras, sempre prioritárias, cortavam como navalhas o encadeamento da trama, em nosso momento de criação. A perseverança sempre nos deu forças para continuarmos o projeto da "Magia do Amuleto", e os "nãos" nunca foram levados em consideração. A conspiração das forças do universo nos impulsionavam, cada vez mais e mais... E a história das índias guerreiras fluía como se houvéssemos a tudo vivenciado: angústias, alegrias, orgulho, medo, coragem... Nos tornamos personagens de nossa própria imaginação! É difícil para quem não escreve, entender todo o processo de construção e reconstrução que cada personagem precisa passar ao longo de páginas e páginas de registros de cada cena. O descrédito de algumas pessoas continuava a nos incomodar, embora a história já estivesse concluída. Entretanto, a nossa certeza nos sinalizava o contrário, afirmando intimamente: sigam... as pedras do caminho lhes ajudarão na solidez de seus sonhos! Palavras soltas ao vento, não têm valor; vale o que está escrito! Vale o que trouxe à tona palavras adormecidas no fundo da sua alma, do seu eu lírico... O livro será editado, sim! A história que nos foi passada será difundida! E os sonhos contidos nas entrelinhas serão realidade, para os leitores que penetrarem na Amazônia encantada de Yana e Rodrigo. A Magia do Amuleto nos apresenta um mundo onde o impossível... jamais teve chance de não existir! A possibilidade do ser ou não ser torna essa trama mágica!

A Sacerdotisa e o Capitão - 31/10/2008


Quando você entrar no mundo mágico da Amazônia do séc. XVII, encontrará nossos protagonistas, Rodrigo e Yana. Eles estão muito bem representados na foto acima, (retirada do livro "Herança da Paixâo", de Shannon Drake). Parece que saíram da "Magia do Amuleto" para o nosso blog... Você resistiria a esse capitão?

08/10/2008 - Make off da Magia




Ontem pela manhã, colocamos o livro corrigido no Sedex. Parece até que escrevemos um segundo livro, aliás, parece que foi o vigésimo!!!!! A cada correção, tínhamos a sensação de que poderíamos contar as coisas de uma outra forma, e começávamos a mudar...a mudar... Até que o tempo falou mais alto e nos demos conta de que tínhamos que terminar essa inglória tarefa: corrigir o que nós mesmas escrevemos!
Nesse momento nos deparamos com todos os sentimentos que afloraram em diversas fases no desenrolar da trama - a chatice inicial da protagonista nos deu vontade de matá-la no terceiro capítulo: ao invés de se parecer uma nativa guerreira da Amazônia, assemelhava-se mais a uma Barbie na Inglaterra do século XVII. Nooooooossssssa! O que fazer?
Ei, peraí! Nesse exato instante acabamos de perceber qual foi o nosso maior desafio: a reconstrução da personalidade da protagonista. Só depois de muito discutir, analisar e escrever, conseguimos o que queríamos: uma mulher apaixonada, impedida de viver esse amor para seguir costumes pré-estabelecidos que norteavam sua vida.
O segundo grande entrave foi o vilão: ele não queria ser do Mal. Por mais que tentássemos, ele sempre era o poderoso da cena. Bonito, forte, selvagem, e extremamente s e n s u a l! hahahahaahahahahah Imaginem: como conseguir fazer uma pessoa com estas qualidades não ser o herói? Paramos e falamos abertamente com ele: -Chega! Não saia mais da página, fique no seu papel. E aceite seu destino!!!
E o que vocês achariam se lhes contássemos que o Matias de Albuquerque, sim, aquele mesmo, o governador-geral da capitania de Pernambuco, era um grande amigo do nosso capitão? Ah, isso podia ter acontecido, sim, mas e o dilema? Coloca o nome dele? Só citamos a situação? Ao lerem, vocês entenderão o que dissemos.
Foram tantas indagações, que poderíamos ficar o dia inteiro escrevendo! Na verdade, o único personagem que não nos deu trabalho (e foram mais de 25!) foi o capitão espanhol. Ele nasceu e cresceu pronto para o que quer que escrevêssemos. Que satisfação vê-lo nadar nu na cachoeira de Anavilhanas!!!!! Uma visão que vocês também terão ao ler as páginas do nosso livro.
Até a próxima!

Cristina e Márcia

25/09/2008 - Do Inferno ao Céu

Cristina falando:
Sete dias depois do último contato com a Editora, sonhei que estava cercada de "bostas" em profusão. Entendam bem: bosta mesmo, vulgarmente conhecida como "cocô". Eu abria a janela da minha casa e chovia bosta. Corria para o jardim e a bosta jorrava da fossa. Acordei com a sensação de que meu mundo viraria o caos. Ao chegar para trabalhar, contei o sonho pra Márcia, e achamos que seria nosso fim... Nossos maridos estavam certos, estávamos fadadas ao fracasso! Uma idéia surgiu: Vamos ver o significado deste sonho. A interpretação apareceu logo na primeira resposta do google (nosso guru virtual): Merda significa muita sorte, nas palavras do confiável site:
"FEZES: Incrível, mas é um sonho de bom agouro; indica sorte no campo profissional; realização de negócios vantajosos e lucros em qualquer tipo de empreendimento."

Cris e Márcia falando:

Dois dias depois, encontramos nossos sonhos e esperanças depositados com total desleixo na caixa de correio da Cris, por um carteiro substituto e inexperiente. Com metade do conteúdo exposto, poderia ser levado por qualquer um, ou ser danificado. Ao abrir a embalagem, qual não foi nosso espanto ao percebermos que se tratava do livro tão ansiado. Agora sim, tínhamos a prova de que ele havia ficado "melhor que ótimo", citando as palavras do nosso editor. Desde então, foi como se uma onda do mar banhasse nossas almas, levando todos os sentimentos negativos trazidos pela angustiante espera.

Segue abaixo a carta-resposta que enviamos à Editora Baraúna, ainda envolvidas pelas emoções daquele dia:

Um fato ocorrido hoje fez cair por terra todos os nossos conceitos e pré-conceitos à cerca de sua instituição. Sim, porque Baraúna é uma instituição acolhedora, com raízes fortes, e propensa à imortalidade. Tal nome, escolhido em momento de completa magia, não poderia significar nada menos do que a própria árvore, que, tão firme em seu propósito de crescer e abastecer seus frutos com a mais pura e sagrada seiva, nunca demonstraria sinais de descaso por nenhum de seus filhos. Filhos, sim. Pois foi esse o sentimento que despertou em nosso coração quando abrimos o despretensioso pacote abandonado na caixa de correio da casa da Cris: Um amor incondicional pela Mãe Baraúna!!!!
Que ela cresça frondosa e livre do desmatamento, regada pelo néctar financeiro de milhões de leitores, enlevados pelo conteúdo valoroso e delicioso de seus frutos.

Sem mais, subscrevemos-nos, totalmente arrependidas de deslizes momentâneos causados pela ansiedade + TPM+cobrança + falta de contato + correio incompetente +...

Editando... publicando? 10/09/2008

O livro já está pronto! Depois de dois anos trabalhando com afinco e dedicação, apesar dos inúmeros obstáculos, finalmente fechamos um ciclo: "A Magia do Amuleto". Registramos nossa obra junto à Biblioteca Nacional, e saímos de lá nos julgando "as escritoras". Fomos comemorar com chopp e galeto (isso foi antes da lei seca...).
Tivemos a certeza de que a história agradaria a todos os apreciadores do gênero romântico. E começamos a saga da busca pelas editoras.

1ªtentativa: Apoio dos amigos
Resolvemos entregar a obra para uma pessoa amiga, que iria encaminhá-la a um conhecido de uma renomada editora. Fiasco total. Depois de três meses aguardando, solicitamos a devolução da obra. E imagine a nossa decepção ao percebermos que, além de não ter sido "aprovada", ela não recebera nenhuma anotação sobre o motivo da não publicação. E uma ligeira desconfiança até hoje ronda nossos pensamentos: "Será que alguém leu?" Tudo bem. O caminho ainda não era esse.

2ªtentativa: Publicação independente.
Decidimos. O caminho era uma "publicação independente". Encontramos vários editores independentes na internet, e optamos por um que estava estabelecido no centro de nossa cidade. Marcamos a entrevista e fomos até lá. O trabalho tinha uma qualidade excelente, e o editor nos pareceu uma pessoa séria. Mas o preço final foi um balde de água fria no nosso entusiasmo. Teríamos que fechar o contrato em mil exemplares, chegando próximo aos dez mil reais. Se optássemos por uma tiragem menor, o custo unitário seria inviável. Detalhe: nossos maridos sempre foram contrários ao nosso trabalho, e não possuíamos outra fonte de renda. Entendam: (é duro assumir pública e bloguemente essa terrível situação) somos teúdas e manteúdas tentando penetrar no mundo dos fardões. Pelo menos, a metade da idade a gente já têm...

3ªtentativa: Cadastro Virtual
Descobrimos através da nossa grande aliada - A INTERNET, que poderíamos nos cadastrar em um site que atuava junto a editoras, servindo de intermediário em um processo seletivo para os escritores. Ficávamos expostos como em uma vitrine, com a sinopse do livro e uma parte dele sendo avaliados pelos interessados. Após quinze dias, oito editoras haviam lido parte do livro, e três entraram em contato, solicitando a obra completa. Estávamos nas nuvens. Avaliamos as propostas.
1ª Uma editora que custeava 50% da produção. Não queríamos; a 2ª prometeu mundos e fundos, oferecendo um lugar em uma prateleira virtual, onde, pela bagatela de menos de três reais(sendo que tínhamos direito a 20% desse valor), as pessoas poderiam ler nosso livro pelo computador. Como controlar isso? Enquanto alimentávamos a dúvida, surgiu uma oferta mais tentadora: uma autopublicação, onde pagaríamos um preço razoável pela editoração do livro, e ele seria comercializado pela internet, no site da editora.
E aqui estamos: nosso livro está no forno. Esperamos que ele não seja incinerado...

A Magia do Amuleto - 02/09/2008



Esse é o título do nosso primeiro livro. Nele, vocês encontrarão amor, aventura e magia, envolvendo dois personagens inesquecíveis: Yana e Rodrigo.
A história se passa no século XVII, na Amazônia, época em que os europeus buscavam o "Eldorado". O encontro inevitável de duas culturas tão distintas serve de apoio para o desenrolar da trama.

Postamos aqui um trecho desse livro, em fase final de produção:


"Isso tudo podia ser real, mas estava tão distante da sua vida... Olhou para o céu e viu que o sol continuava a iluminar aquele cenário inebriante, apesar de sua angústia. Seu corpo estava rígido e seu maxilar contraído; a notícia crescera dentro dele como uma tempestade em alto-mar, e seu peito doía ao respirar. Era preciso reagir... Ao longe, o som de uma cachoeira fez com que despertasse de suas inquietações. Teve vontade de mergulhar, nadar e esquecer tudo por um momento. Subindo por entre as pedras que se erguiam ao lado, avistou as águas límpidas jorrando em um lago sinuoso, cercado por belas flores selvagens. De imediato, desceu e arrancou as roupas, mergulhando com prazer nas águas refrescantes. Quando emergiu, emudeceu: Yana estava parada à sua frente. Ela era perfeita, e sentiu aumentar dentro de si o desejo que o consumia desde que a conhecera. Com os cabelos negros molhados caindo sobre os seios e o corpo nu, ela parecia fundir-se com a magia do cenário. A pureza de seus olhos assustados contrastava com o apelo sensual do seu corpo. A beleza de sua pele dourada caiu sobre ele como um raio: era uma visão, um delírio. Precisava amá-la com todos os seus sentidos. Nada mais importava naquele momento. Nem de onde vinha, nem para onde ia. Encantado, só conseguiu sorrir para os olhos verdes que o fitavam."

A Sacerdotisa Yana e o Capitão Rodrigo

Capa do livro "Herança da Paixão", de Shannon Drake
Minha'lma de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver, pois que tu és já toda a minha vida

Não vejo nada assim, enlouquecida
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser, a mesma história tantas vezes lida

Tudo no mundo é frágil, tudo passa
Quando te digo isso, toda a graça
De tua boca bonita fala em mim, de olhos postos em ti, digo de rastro

Podem voar mundos, mover astros
Que tu és como um deus, princípio e fim."

Florbela Espanca